Há dias assim, Horácio
2005
Há dias assim – eu sei que não é há, mas sim: existem dias assim, por causa do plural, mas sou eu que estou a escrever e eu é que sei.
Há dias assim. Há dias em que tudo passa por nós numa irritação crescente. Há dias em que tudo é o quotidiano puro e simples sem novidades, sem nada de novo, tudo igual a ontem. Mas às vezes tudo difere do que se esperaria. Saímos porta fora e em vez de rodarmos para a esquerda como sempre fazemos para enfiar a chave na ranhura da porta, não, rodamos para o outro lado ou fazemos algo diferente e o resto do dia sai afectado. Entramos no carro e de repente não sabendo bem porquê metemos por uma rua que não é hábito e encontramos um trânsito a que não estamos habituados. Aproveitamos e já que estamos aqui levantamos dinheiro num multibanco. Estacionamos e riscamos uma jante especial que agora é ainda mais especial porque é nossa, porque está riscada e porque consegue provocar, a partir de hoje uma certa irritação cada vez que olhamos para ela. Arrancamos e colocamos os óculos de sol que se partem numa zona que não se consegue arranjar. Bonito! Isto está a correr bem, está.
Ao fim de meia hora temos duas hipóteses, ou deixamo-nos afectar e quando damos conta estamos com tiques nervosos, tensões acumuladas nas articulações e somos um poço de ansiedade que atrai ainda mais todas as merdas que nos podem irritar - até mesmo aquilo que seria normal de acontecer nos irrita. Ou então, deixamos que a respiração volte ao normal, deixamos que a temperatura estabilize, deixamos que os olhos se habituem à claridade. E quando damos conta tudo está como estava, tudo voltou à calma habitual e apenas algumas alterações, irrelevantes até, se fazem sentir: Eh pá, tens uma jante riscada! Deixa lá, antes a jante que uma perna. Eh pá, mas tens os óculos partidos. Deixa lá, foram baratos... Eu depois peço ao Horácio que meta aí um pingo de solda.
Há dias assim. Há dias em que tudo passa por nós numa irritação crescente. Há dias em que tudo é o quotidiano puro e simples sem novidades, sem nada de novo, tudo igual a ontem. Mas às vezes tudo difere do que se esperaria. Saímos porta fora e em vez de rodarmos para a esquerda como sempre fazemos para enfiar a chave na ranhura da porta, não, rodamos para o outro lado ou fazemos algo diferente e o resto do dia sai afectado. Entramos no carro e de repente não sabendo bem porquê metemos por uma rua que não é hábito e encontramos um trânsito a que não estamos habituados. Aproveitamos e já que estamos aqui levantamos dinheiro num multibanco. Estacionamos e riscamos uma jante especial que agora é ainda mais especial porque é nossa, porque está riscada e porque consegue provocar, a partir de hoje uma certa irritação cada vez que olhamos para ela. Arrancamos e colocamos os óculos de sol que se partem numa zona que não se consegue arranjar. Bonito! Isto está a correr bem, está.
Ao fim de meia hora temos duas hipóteses, ou deixamo-nos afectar e quando damos conta estamos com tiques nervosos, tensões acumuladas nas articulações e somos um poço de ansiedade que atrai ainda mais todas as merdas que nos podem irritar - até mesmo aquilo que seria normal de acontecer nos irrita. Ou então, deixamos que a respiração volte ao normal, deixamos que a temperatura estabilize, deixamos que os olhos se habituem à claridade. E quando damos conta tudo está como estava, tudo voltou à calma habitual e apenas algumas alterações, irrelevantes até, se fazem sentir: Eh pá, tens uma jante riscada! Deixa lá, antes a jante que uma perna. Eh pá, mas tens os óculos partidos. Deixa lá, foram baratos... Eu depois peço ao Horácio que meta aí um pingo de solda.
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