tabula rasa

t a b u l a r a s a | A l t e r E g o | d e I m p r o v i s o

...deImproviso

a vida é um improviso constante.

b l o g
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T a b u l a R a s a P l a y e r

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se tivesse acontecido tinha sido exactamente assim

-Olha, ouves?... - Perguntou-me ela de pé apontando exaltadamente para uma das colunas de onde a música saía. - “You always find a way to keep me right here waiting...”* Arranjas sempre uma forma de me manteres aqui, à espera. É isto que acontece... - Terminou ela olhando-me nos olhos voltando-se de imediato para a janela que estava atrás de si onde permaneceu com a serra de Montejunto lá ao longe reflectida nos olhos.
Sentei-me no sofá atrás de mim na duração de um suspiro vagaroso tentando encontrar uma resposta no infinito da parede.
-Não dizes nada?... - Perguntou-me da janela lançando-me um olhar breve por cima do ombro.
Não podia dizer nada, porque provavelmente ela teria razão. Eu próprio já tinha passado por isso e recordei-me de como é ficar de onde queremos fugir, à espera. Sentei-me e fiquei a ouvir a música, a tentar analisar tudo, a tentar sair por completo da minha pele, a tentar sair ainda mais do que costumo fazer.
Seria provavelmente verdade. Seria provavelmente a forma que eu tinha de manter algo que já tinha acabado. Eu sei que nunca lhe tinha dado esperança. Então porque me dizia ela aquilo?
Ponderei à medida que a música avança segundo a segundo no mostrador do leitor do CD. Ponderei e apercebi-me que a minha presença, os meus telefonemas ao longo dos meses expressando a minha preocupação querendo saber como ela estava tinham sido, de certa forma, a esperança que eu não lhe queria dar, mas que num fundo secreto eu tinha necessidade de sentir. Sempre foi assim, agora que vejo. Porque em tudo existem coisas que ninguém gosta de perder, coisas que nos deixam saudade. Uma saudade como que antiga da cumplicidade das coisas boas que passámos.
Ninguém gosta de perder isso, como se fosse possível rasgarmo-nos em vidas paralelas, como se pudéssemos construir um Lego de sentimentos e cumplicidades que preenchesse cá dentro cada canto de nós.
Continuei sentado sem me aperceber ao certo que ela tinha já saído e que a música que tocava era outra. Sem me aperceber que passamos a vida a trocar de papéis e que o meu era agora, já outro.
Foi exactamente o que se passou. Ou melhor, não foi nada disto, porque não aconteceu, mas se tivesse acontecido tinha sido exactamente assim.

*Staind
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