falsa aparência
2006
Falsa aparência. Somos uma falsa aparência. Preocupamo-nos com a roupa, com o corte de cabelo, com a cor do sapato a condizer com uma outra merda qualquer que tenhamos vestido, com o relógio, com o bronzeado que nos dá um ar saudável de quem tem uma vida economicamente saudável para ir para um desses paraísos de sol onde toda a gente é simpática porque é essa a sua função, numa falsa aparência que se aprende nas escolas de hotelaria.
A falsa aparência do dia a dia que esconde as imperfeições da morte anunciada de todos nós. Porquê? Porque é que nos gostamos de enganar assim tanto como se fôssemos perfeitos e eternos? Se calhar exactamente por isso, porque nunca ficamos mais novos e estamos longe de sermos perfeitos. Escondemo-nos atrás de uma capa que esconde um declínio aparentemente eminente mas que já começou há muito. Escondemos rugas. Escondemos dentes arranjados, reconstruídos, outrora cariados, possessos de dor. Escondemos uma queda de cabelo que teimamos em dizer que foi da muita água salgada do sítio onde passámos férias. Continuamos com a mesma dor nas costas há anos e continuamos a dizer todos os dias que demos um jeito a dormir ou que precisamos de trocar o colchão, - agora, quando trocar-mos de mobília, - mas a qual sabemos que vai ter de se arrastar lá pelo quarto mais uns anos porque se metem outras coisas à frente.
A falsa aparência do dia a dia que esconde as imperfeições da morte anunciada de todos nós. Porquê? Porque é que nos gostamos de enganar assim tanto como se fôssemos perfeitos e eternos? Se calhar exactamente por isso, porque nunca ficamos mais novos e estamos longe de sermos perfeitos. Escondemo-nos atrás de uma capa que esconde um declínio aparentemente eminente mas que já começou há muito. Escondemos rugas. Escondemos dentes arranjados, reconstruídos, outrora cariados, possessos de dor. Escondemos uma queda de cabelo que teimamos em dizer que foi da muita água salgada do sítio onde passámos férias. Continuamos com a mesma dor nas costas há anos e continuamos a dizer todos os dias que demos um jeito a dormir ou que precisamos de trocar o colchão, - agora, quando trocar-mos de mobília, - mas a qual sabemos que vai ter de se arrastar lá pelo quarto mais uns anos porque se metem outras coisas à frente.
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