Esta noite tive um sonho estranhíssimo. Sonhei que era dono de uma pastelaria. O que não era mau, dizem que ganham quase tanto como um trolha legalizado. O café dá muito lucro... Mas adiante.
Estava eu na pastelaria, numa daquelas horas mais calmas, entra-me um senhor, aproxima-se do balcão e pede um café.
-Ora aqui está um cafézinho. - Disse eu com um ligeiro sorriso na minha facilidade de comunicação. - Então e mais? É só?
-Queria um bolo de arroz, por favor.
-Desculpe mas não temos bolos. - Respondi.
-Não têm bolos? Então, houve algum problema hoje?
-Não, de forma nenhuma. Nós nunca temos bolos!
-Como? Nunca têm bolos?... Mas isto não é uma pastelaria? E eu estou ali a ver bolos... - Disse ele apontando para uma das vitrinas.
-Tem toda a razão e disse muito bem, isto é uma pastelaria, mas aquilo não são bolos, são pasteis de nata.
-E não é a mesma coisa? Um pastel de nata não é um bolo?
-Existem pessoas que assim o consideram, mas para mim são pastéis.
-Mas então, o que é que tem afinal?
-Pastéis! Pastéis de nata, pastéis de massa tenra, pastéis de bacalhau e todos os outros pastéis que se possa lembrar. Ora chegue aqui fora por favor. - Disse eu fazendo sinal para me seguir.
Ele seguiu-me desconfiado até ao exterior.
-Ora aqui está! O que é que diz ali? - Perguntei eu apontanto para o toldo.
-Pastelaria?... - Respondeu ele confuso em tom de pergunta.
-Muito bem! Pastelaria O Trolha. Estou farto que façam este tipo de confusão. Pastelaria O Trolha. - Repeti eu devagar. - Você procura é uma bolaria! Aqui só vendemos pastéis, daí o nome. Encontra uma bolaria ali mais abaixo, no 18, ou então uma croissanteria no 24. Aqui é o 14 e é uma pastelaria. Olhe, uma vez a minha prima Odete de Loures escreveu-me e em vez de número 14, meteu 24 e foi ter à croissanteria. Quando lá passei para comprar um croissant para a patroa, que ela é que gosta dessas mariquices, a rapaziada de lá até se meteu comigo porque tinha chegado uma carta para o dono, mas tinha o meu nome e eles já julgavam que eu tinha comprado aquilo e que agora eu era o patrão. Isto explicaram eles depois, porque quando eu entrei lá, só disseram: é patrão! E eu sem perceber nada. Portanto, o que eu quero dizer com isto, é que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O que o senhor procura é uma bolaria. Vá ali abaixo que eles tratam-no bem, e até têm café e tudo.

Depois não me lembro de mais nada. Qualquer dia escrevo um livro com estas coisas todas. Se tivesse jeito... E acho que o gajo não me pagou o café que lhe servi. Logo o café, que é o que dá mais lucro.