A carta...
2010
Há uns tempos fui a um daqueles jantares de grupo, com o pessoal do verga-a-mola e com os betinhos lá do escritório. Não me perguntem o que se estava a comemorar que essas coisas passam-me ao lado. Sei que estávamos lá e que estávamos a comer.
Já só apanhei a conversa a meio. Dizia uma das miúdas dos vencimentos, que por acaso se tinha sentado quase à minha frente a outra mais à minha esquerda que acho que é das fotocópias:
-Eu não. Eu, quando tirei a carta, foi muito engraçado... - Continuou ela com o discurso no timbre irritante de quem quer respirar e não tem ar que chegue.
Dizia ela, que quando tirou a carta lhe perguntaram por exames e mais isto e mais aquilo, e a carta isto, e a carta aquilo, e que já tem a carta vai fazer três anos, e que o seguro até já ficou mais barato porque tem carta há mais de dois. E não contente, voltou ao princípio da história para contar os pormenores que se tinha esquecido sobre como foi quando tirou a carta...
O vinho até já me estava a saber mal. Já duvidava se estava avinagrado ou se era da minha boca. Nisto interrompi:
-Desculpe estar a interromper, mas não pude deixar de ouvir. E sabe uma coisa? Uma vez também tirei a carta. - O silêncio invadiu aquele segmento da mesa e aí continuei triunfante. - Tirei, a sério. E disseram-me assim, “Ah, tire uma carta”. E eu tirei. Era um rei de copas. E depois disseram para voltar a meter no baralho. Até baralharam muito bem e tudo, a seguir... E no fim descobriram qual era a carta que eu tinha tirado... Era o rei de copas...
O silêncio permaneceu durante alguns segundos. Rebolei por dentro a rir olhando-a nas trombas. A expressão na sua cara estava estagnada como água parada numa poça. Os olhos eram o espelho daquela cabeça confusa. De repente despertou novamente e disse:
-Não, mas a sério, quando tirei a carta... - Continuou ela.
Já não a conseguia ouvir mais e bebi de pénalti um copo de tinto para deixar os ouvidos dormentes.
Sei que não atingi o meu principal objectivo, mas diverti-me sozinho. E sei perfeitamente qual o comentário que fizeram mais tarde entre sorrisos de gozo e olhares de desdém sobre a minha intervenção, mas eu não me importo, sequer. Sei que sou trolha, e daí?
Já só apanhei a conversa a meio. Dizia uma das miúdas dos vencimentos, que por acaso se tinha sentado quase à minha frente a outra mais à minha esquerda que acho que é das fotocópias:
-Eu não. Eu, quando tirei a carta, foi muito engraçado... - Continuou ela com o discurso no timbre irritante de quem quer respirar e não tem ar que chegue.
Dizia ela, que quando tirou a carta lhe perguntaram por exames e mais isto e mais aquilo, e a carta isto, e a carta aquilo, e que já tem a carta vai fazer três anos, e que o seguro até já ficou mais barato porque tem carta há mais de dois. E não contente, voltou ao princípio da história para contar os pormenores que se tinha esquecido sobre como foi quando tirou a carta...
O vinho até já me estava a saber mal. Já duvidava se estava avinagrado ou se era da minha boca. Nisto interrompi:
-Desculpe estar a interromper, mas não pude deixar de ouvir. E sabe uma coisa? Uma vez também tirei a carta. - O silêncio invadiu aquele segmento da mesa e aí continuei triunfante. - Tirei, a sério. E disseram-me assim, “Ah, tire uma carta”. E eu tirei. Era um rei de copas. E depois disseram para voltar a meter no baralho. Até baralharam muito bem e tudo, a seguir... E no fim descobriram qual era a carta que eu tinha tirado... Era o rei de copas...
O silêncio permaneceu durante alguns segundos. Rebolei por dentro a rir olhando-a nas trombas. A expressão na sua cara estava estagnada como água parada numa poça. Os olhos eram o espelho daquela cabeça confusa. De repente despertou novamente e disse:
-Não, mas a sério, quando tirei a carta... - Continuou ela.
Já não a conseguia ouvir mais e bebi de pénalti um copo de tinto para deixar os ouvidos dormentes.
Sei que não atingi o meu principal objectivo, mas diverti-me sozinho. E sei perfeitamente qual o comentário que fizeram mais tarde entre sorrisos de gozo e olhares de desdém sobre a minha intervenção, mas eu não me importo, sequer. Sei que sou trolha, e daí?
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