Milagre
2012
Isto com o calor promete. Promete sempre, mas dizemos isto todos os anos mal o tempo aquece e as miúdas se vestem cada vez menos. Tínhamos acabado de sair da obra, eu e os meus compinchas, para irmos à marmita, quando nisto vemos uma miúda a meter coisas na bagageira de um carro parado do outro lado da estrada. Dia de sol, vestido curto, pernas de sonho, já um bocadinho bronzeadas como se quer. Já vos falei do vestido curto? Pois é, nisto, coisas dentro da mala, ajeita daqui ajeita dali, nós a apreciarmos as linhas das pernas, eis que o vento sopra, não uma, não duas, mas três vezes, como se tivesse cumprido uma profecia. Milagre, alguém gritou. Como é que alguém consegue dizer alguma coisa numa altura daquelas? Não existem palavras que descrevam tão raro momento, uma cena Marilyn Monroe só que sem ser ensaiada. As linhas das pernas a serem descobertas pelo vento levantando o vestido num crescendo gradual mostrando por fim onde terminavam, umas nádegas perfeitas emolduradas por uma ‘asa delta’ preta qual cereja em cima do bolo. Isto foi um milagre, repetiram. Mas milagre porquê, perguntei, por ser raro acontecer? Não viste que o vento soprou do chão? Ah pois, tens razão, bem visto. Mas viste bem, perguntei eu. Se vi, respondeu-me ele. Era tão boa, tão boa, tão boa, que se a Madre Teresa fosse viva, ao pé dela era um homem e chamava-se Mao Tsé-Tung. Eh lá, oh meu, respeitinho pela senhora, está bem? Que deus a tenha.
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