tabula rasa

t a b u l a r a s a | A l t e r E g o | t r o L h a

...t r o L h a

todos temos um trolha
dentro de nós...

b l o g
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T a b u l a R a s a P l a y e r

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A luz da revisão

No outro dia fui buscar a minha namorada a casa. Não sei se já vos falei dela. Trinta e cinco anos, solteira, com um filho de dezoito, o Zé Jorge, que trabalha alguns dias por semana numa oficina como aprendiz. Pelas vezes que lá mete os pés, vai ser aprendiz até à idade da mãe. A culpa é da avó que sempre o estragou com mimos por ser filho de mãe solteira. Os azares acontecem e engravidar tão nova é um encargo muito grande, mas acho que ela devia ter saído de casa da mãe há muito tempo. Conviver com a velha está a deixá-la amarga.
Íamos jantar fora, que já lhe tinha prometido e não parava de me chatear a cabeça que nunca a levava a lado nenhum - pois, é a mim que me custa a ganhá-lo...
Quanto lá cheguei, buzinei como é costume e apercebi-me do indicador da revisão. Ainda mais esta. A revisão do carro. Entretanto ela desceu.
-Estás atrasado. Como é costume... - Disse ela com a voz igual à da mãe.
-Apanhei trânsito. - Disse eu para me desculpar.
-Foi trânsito, foi...
Se eu digo que foi trânsito, é porque foi trânsito. Não tenho o hábito de mentir. Apanhei trânsito à saída da cervejaria do Marinho. Era happy-hour. Bebiam-se três imperiais, pagavam-se duas. Aquilo estava à pinha, claro. Mas calei-me. Ela não tinha precisão de saber de tudo. De certeza que ela também não me conta tudo o que se passa com ela.
-Olha, acendeu-me a luz da revisão. - Disse eu mudando de assunto.
-E então?
-Então que é preciso ir à revisão.
-Vai lá à oficina do Zé Jorge, e dizes que vais da parte dele, que ele assim recebe uma comissão pela publicidade, coitadinho.
-Àqueles gatunos? Nem pensar!
-Olha, então vai ter com os teus amigos da outra garagem, onde se puseram a olhar-me para o cu da outra vez. Eles que te façam de borla... O que é que te custava?
-Custava-me o horror de dinheiro que eles me iam pedir. E o pessoal lá da garagem não se puseram a olhar para o teu cu. Admiraram. Mais nada... É bom sinal. Também, com a roupa que levavas, estavas à espera do quê?
-Porquê? Visto-me mal? Sou nova...
-E olha, calha bem... - Continuei eu num rasgo de génio. Aquela tinha nascido mesmo ali... Uma deixa que me iria colocar na história dos trolhas de um a dois meses... Ou até mais tempo, quem sabe.
-Calha bem, o quê? - Perguntou ela mordendo o isco.
-Calha bem ter acendido a luz da revisão quando cheguei e tu já estares aqui.
-E o que tem eu estar aqui?
-É que preciso de mudar o óleo!
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